Cervo-do-pantanal

Cervo-do-pantanal

Suaçuetê, Suaçupu, Suaçuapara, Guaçupuçu, Cervo

Reino
Filo
Subfilo
Classe
Subordem
Família
Subfamília
Espécies
Blastocerus dichotomus
Tamanho da população
Unknown
Vida útil
10 years
Peso
80-125
176-275
kglbs
kg lbs 
Altura
100-127
39.4-50
cminch
cm inch 
Comprimento
153-200
60.2-78.7
cminch
cm inch 

Cervo-do-pantanal (nome científico: Blastocerus dichotomus), também chamado suaçuetê, suaçupu, suaçuapara, guaçupuçu ou simplesmente cervo, é um mamífero ruminante da família dos cervídeos (Cervidae) e único representante do gênero Blastocerus. Ocorria em grande parte das várzeas e margens de rios do centro da América do Sul, desde o sul do rio Amazonas até o norte da Argentina, mas atualmente, a espécie só é comum no Pantanal, na bacia do rio Guaporé, na ilha do Bananal e em Esteros del Iberá.

Mostrar mais

É o maior cervídeo sul-americano, podendo pesar até 125 quilos e ter até 127 centímetros de altura. Os machos são um pouco maiores que as fêmeas e possuem chifres ramificados. Os cascos são longos e podem se abrir até cerca de 10 centímetros, graças à presença de uma membrana interdigital, o que é uma adaptação ao deslocamento em ambientes inundados. Apesar de ser um ruminante, seu sistema digestório é menos especializado na digestão de celulose. É preferencialmente solitário e diurno, e seus predadores são a onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma concolor). Sua dieta constitui-se principalmente de plantas aquáticas. A gestação dura entre 251 e 271 dias, e as fêmeas dão à luz um filhote por vez.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) consideram a espécie como "vulnerável" e sua área de distribuição geográfica foi radicalmente reduzida a partir do século XX. As principais ameaças são a alteração do habitat por conta da construção de usinas hidrelétricas, as doenças advindas de animais domésticos, como a febre aftosa e a caça, principalmente como troféu. Existem inúmeras unidades de conservação em que ocorre a espécie, e ela foi reintroduzida com sucesso na Estação Ecológica Jataí, em São Paulo.

Mostrar menos

Aparência

É o maior cervídeo da América do Sul, pesando entre 80 e 125 quilos, com 153 a 191 centímetros de comprimento e de 110 a 127 centímetros na altura da cernelha. Os machos tendem a ser maiores que as fêmeas, sendo, em média, 6% mais altos e 13% mais pesados, além de possuírem o pescoço mais musculoso.

Mostrar mais

Somente os machos possuem chifres, que têm uma haste de até 60 centímetros de comprimento. Os chifres possuem quatro ramificações principais que não apontam para o interior da ramificação, o que permite diferenciar a espécie das do gênero Odocoileus. No total, os chifres do cervo-do-pantanal possuem entre 8 e 12 pontas. A haste principal apresenta uma dicotomia próxima à base, e cada ponta se ramifica novamente, o que é raro de se observar no veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus). Podem ser observados machos com chifres durante o ano todo que podem ser trocados a cada mês. Porém, isso geralmente ocorre no inverno e tem relação direta com o ciclo de inundações das várzeas em que habita o cervo-do-pantanal. As trocas são mais frequentes em indivíduos juvenis e idosos, e quando são dominantes em um dado território, elas diminuem, e as galhadas podem ficar retidas por até 32 meses. A pelagem é castanho-avermelhada, lanosa e brilhosa, tornando-se mais avermelhada durante o verão; possui pelos brancos em volta dos olhos, peitoral, pescoço, interior das pernas e nas orelhas. Os juvenis não possuem pelagem manchada e os membros dos adultos são pretos. Os dois dedos dos cascos possuem até 8 centímetros de comprimento e são ligados por uma membrana interdigital que permite que os dedos se abram até cerca de 10 centímetros entre si, condição única entre os cervídeos da América do Sul. Trata-se de uma adaptação ao deslocamento em ambientes pantanosos.

A fórmula dentária é e a largura da coroa dos incisivos e dos caninos é a mesma. Os pré-molares são menos molariformes que os de Ozotoceros, assim como os molares possuem um sulco na cúspide mésio-lingual, diferente também do encontrado em Ozotoceros. O crânio, por sua vez, é muito semelhante ao deste gênero, e se diferencia por conta de seu tamanho maior e pelo formato das órbitas, que possuem disposição mais lateral e inferior. Isso torna a visão do cervo-do-pantanal mais completa quando em direção ao solo, provavelmente uma adaptação aos deslocamentos em área inundadas. Assim como outros cervídeos, possuem a glândula pré-orbital.

Como um ruminante, o cervo-do-pantanal possui os mesmo compartimentos estomacais encontrados em outros cervídeos: rúmen, barrete, omaso e abomaso. Apesar de compartilhar tal adaptação dos ruminantes, seu sistema digestório é menos eficiente em digerir a celulose. Além disso, o fígado da espécie, ao contrário do observado em ruminantes domésticos, não possui vesícula biliar.

O cervo-do-pantanal possui 66 cromossomos e o cariótipo é muito semelhante ao do veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus). O cromossomo X é metacêntrico e o Y é acrocêntrico. Os autossomos são acrocêntricos.

Mostrar menos

Vídeo

Distribuição

Geografia

Inicialmente, o cervo-do-pantanal ocorria desde o sul do rio Amazonas até o norte da Argentina. Ocorria no sudoeste semiárido da Caatinga, no sul do Piauí, oeste da Bahia, e na bacia do rio São Francisco; a oeste das regiões montanhosas na Mata Atlântica do sudeste do Brasil (oeste dos estados de São Paulo e Paraná), no extremo sul do Rio Grande do Sul e extremo norte e oeste do Uruguai.

Mostrar mais

Já habitou extensas áreas do Brasil Central, Bolívia, Paraguai, Peru e Argentina, mas atualmente, as populações são relictuais e muito reduzidas. No Brasil é abundante no Pantanal, na Ilha do Bananal, no rio Araguaia e no rio Guaporé e em várzeas remanescentes do rio Paraná (entre os estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná). Populações isoladas ocorrem em Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Bahia. A espécie é considerada extinta no Uruguai. Na Argentina, ainda ocorre na foz do rio Paraná, na província de Entre Rios, em Esteros del Iberá, e em algumas várzeas do nordeste deste país. Na Bolívia, é encontrado em savanas e várzeas da região nordeste, desde Otuquis e San Matías até os Llanos de Moxos, ocorrendo nas bacias dos rios Mamoré, Beni e Guaporé. No Paraguai, ocorre nas bacias dos rios Paraná e Paraguai.

É uma espécie extremamente dependente de plantas aquáticas, de forma que habita preferencialmente áreas inundáveis com até 60 centímetros de profundidade e com cobertura vegetal baixa. Entretanto, ele pode ser observado em ambientes com maior profundidade. Evita áreas permanentemente inundadas e o padrão de inundações é preponderante na distribuição dos indivíduos no habitat. Sendo assim, o habitat do cervo-do-pantanal é classificado como uma transição entre as áreas permanentemente inundadas e as áreas secas. Esses ambientes são caracterizados pela presença de gramíneas (principalmente do gênero Andropogon), ciperáceas e outras plantas aquáticas, como Thalia geniculata, Canna glauca e Ludwigia nervosa. Pode ser encontrado frequentemente nas "veredas", em meio aos buritis (Mauritia flexuosa), e é o principal habitat da espécie nos Cerrados brasileiros. É possível que ele se adapte a áreas alteradas pelo homem, desde que não seja caçado.

Mostrar menos
Cervo-do-pantanal Mapa do habitat

Zonas climáticas

Cervo-do-pantanal Mapa do habitat

Hábitos e estilo de vida

O cervo-do-pantanal possui hábitos noturnos em regiões bastante modificadas pelo homem, como observado na bacia do rio Paraná, principalmente devido à pressão de caçadores. No Pantanal, em que a espécie é menos caçada, ela é diurna. É um bom nadador, e é capaz de atravessar grandes distâncias a nado, indo de uma margem à outra, mesmo em grandes rios represados, como o Paraná.

Mostrar mais

É considerado um animal solitário, apesar de eventualmente ser observado pequenos grupos familiares, compostos de um adulto e um ou mais jovens. Esses grupos são compostos geralmente por fêmeas adultas e sua prole, e são mais frequentemente observado durante a estação chuvosa e podem ter até seis indivíduos. Apesar de majoritariamente solitário, o cervo-do-pantanal apresenta um complexo repertório comportamental, como observado em estudos com animais em cativeiro. Aparentemente, são territoriais, e evidências genéticas corroboram a hipótese de um sistema de acasalamento poligínico nos cervos-do-pantanal. Isso também fica evidenciado pelo registro de comportamento agonístico entre machos adultos. Apesar disso, nunca foi observado a formação de harens. Os territórios dos machos possuem até 12,3 quilômetros quadrados de área, sendo significativamente maiores que os das fêmeas, que possuem no máximo, 5 quilômetros quadrados. A área de vida dentro do território não é fixa, e ela tende a mudar de acordo com as inundações de seu habitat.

Seus principais predadores são a onça-parda (Puma concolor) e a onça-pintada (Panthera onca), apesar de o cervo-do-pantanal não ser a espécie mais visada por esses grandes felinos. Além destes, a sucuri (Eunectes murinus), o lobo-guará (Chrysocyon brachiurus) e jacarés podem predar principalmente os filhotes.

A espécie é parasitada por carrapatos, principalmente do gênero Amblyomma, sendo Amblyomma triste a espécie mais comumente encontrada. A presença de animais domésticos aumenta significativamente a infestação por carrapatos, inclusive de espécies transmissoras de doenças, como o carrapato-estrela (Amblyomma cajennense) e o carrapato-de-boi (Boophilus microplus). O cervo-do-pantanal parece ser um reservatório natural de agentes patogênicos da erliquiose monocítica humana (causada por Ehrlichia chaffeensis) e da anaplasmose (que afeta ruminantes e é causada por Anaplasma marginale).

O cervo-do-pantanal não é considerado um "pastador" e nem um "podador" típicos, tendo um hábito alimentar e de forrageio intermediário entre essas duas estratégias de obtenção de alimento. Muitas vezes, essa espécie de cervídeo opta pela ingestão de alimentos mais fáceis de digerir, ao contrário do observado em "pastadores" típicos, e possui hábitos oportunistas se comparado aos "podadores" típicos. Ademais, comparado com outros ruminantes, sua dieta tem alto valor nutritivo e melhor digestibilidade. Isso tem relação direta com o fato do cervo-do-pantanal consumir preferencialmente folhas largas e brotos tenros de Discolobium, Aeschynomene e outras plantas aquáticas. Mesmo as gramíneas consumidas são relativamente fáceis de digerir, como Hemarthria altissima.

As observações do cervo-do-pantanal sempre foram em regiões que são alagadas durante a estação chuvosa (principalmente onde existe a gramínea Andropogon) e sua dieta constitui-se de pelo menos 35 espécies vegetais, principalmente, plantas aquáticas. No Pantanal, constatou-se que esse cervídeo se alimenta principalmente de gramíneas, leguminosas e plantas da família Pontederiaceae e Alismataceae. Algumas espécies e gêneros de plantas encontrados no Pantanal também são consumidas em outras regiões, como em Esteros del Iberá, na Argentina. Nestas duas localidades, a espécie mais consumida foi uma planta aquática, Nymphaea amazonun. Por conta das mudanças de área de vida em função das inundações de seu habitat, existe uma relativa mudança nas espécies de plantas consumidas quando se compara a estação seca e a chuvosa: Andropogon hypogynus é mais consumida durante a estação chuvosa, enquanto que Hemarthria altissima é mais consumida durante a estação seca.

Pouco se sabe a cerca da reprodução do cervo-do-pantanal em liberdade. Alguns autores sugerem que o período de nascimentos se estende de outubro a novembro, mas outros afirmam que é de maio a setembro. Também é sugerido que não existe sazonalidade nos nascimentos, e eles ocorreriam durante o ano todo. Também não se sabe quando o cervo-do-pantanal alcança a maturidade sexual.

Um estudo em cativeiro mostra que as fêmeas não apresentam sazonalidade reprodutiva, possuindo vários estros ao londo do ano, assim como um estro pós-parto. O ciclo estral dura entre 21 e 24 dias, e a gestação, entre 251 e 271 dias. No período fértil, a fêmea permite a chegada do macho, além de apresentar hiperemia vulvar e secreção mucoide abundante. As fêmeas dão à luz um filhote por vez, que ao contrário dos outros cervídeos, não possuem pintas brancas na pelagem, sendo semelhante ao do adulto. O recém-nascido pesa entre 4 e 5 quilos. Com cerca de 5 dias de idade, o filhote já é capaz de seguir a mãe. Nunca foi observado o nascimento de gêmeos no cervo-do-pantanal.

Mostrar menos
Comportamento sazonal

Dieta e nutrição

População

Referências

1. Cervo-do-pantanal artigo na Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Cervo-do-pantanal
2. Cervo-do-pantanalno site da Lista Vermelha da IUCN - https://www.iucnredlist.org/species/2828/22160916

Animais mais fascinantes para aprender