Arau-gigante
Reino
Filo
Classe
Família
Género
Espécies
Pinguinus impennis
Vida útil
20-25 years
Peso
5-8
11-17.6
kglbs
kg lbs 
Altura
75-85
29.5-33.5
cminch
cm inch 

Arau-gigante ou alca-gigante (nome científico: Pinguinus impennis) é uma espécie extinta de ave da família dos alcídeos que vivia no Atlântico Norte. Seu território original compreendia uma vasta região do Canadá a Noruega, incluindo a Islândia, ilhas Britânicas, França e norte da Espanha. Incapaz de voar, passava a maior parte da vida na água, de onde saía apenas na época do acasalamento. Formava grandes colônias em ilhas rochosas isoladas, com fácil acesso ao mar e alimento em abundância por perto. Poucos locais preenchiam esses requisitos, de modo que a ave, provavelmente, nunca teve mais que vinte colônias de reprodução, das quais apenas seis são conhecidas. Durante o inverno migrava para o sul, aos pares ou em pequenos grupos.

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O arau-gigante media até 85 cm de altura e pesava cerca de 5 kg. Seu dorso era preto, enquanto que a parte ventral tinha cor branca. O bico era curvo, forte, negro e com ranhuras na superfície. Durante o verão a plumagem apresentava uma mancha branca sobre cada olho, que desaparecia no inverno e dava lugar a uma faixa branca entre os olhos. Suas pequenas asas, de apenas 15 cm de comprimento, não lhe permitiam voar. Em contrapartida, o arau-gigante era um exímio nadador: mergulhava a mais de 70 metros de profundidade e conseguia prender a respiração por 15 minutos, mais que uma foca. Sua dieta era composta basicamente por peixes.

É a única espécie moderna do gênero Pinguinus, termo originário do galês pen gwyn, seu antigo nome popular nas ilhas Britânicas. Quando os exploradores europeus descobriram no hemisfério Sul as aves conhecidas hoje como pinguins, eles notaram a aparência similar ao arau-gigante e as batizaram com esse nome, que persiste até a atualidade. Apesar de parecidos, araus e pinguins não têm nenhum parentesco próximo e sequer são classificados na mesma ordem de Aves.

O arau-gigante foi caçado pelos seres humanos desde a pré-história. O extermínio aumentou drasticamente com o advento das navegações, pois os ovos e a carne da ave serviam de comida para os marinheiros. Eles também matavam os araus para usá-los como isca de pesca e até como "lenha" de fogueira: a queima dos corpos, ricos em gordura, liberava óleo suficiente para manter uma chama acesa. A pressão sobre a espécie se acentuou quando suas plumas viraram uma matéria-prima popular para travesseiros. Os cientistas da época perceberam que o arau estava desaparecendo e algumas leis de proteção foram criadas, mas nenhuma mostrou eficácia. No início do século XIX, com sua raridade cada vez maior, exemplares do animal e seus ovos se tornaram alvo de museus e colecionadores, que pagavam para obter espécimes. Um arau-gigante vivo foi visto pela última vez em 1852. Atualmente, 78 peles da ave ainda existem, a maioria em coleções de museus, além de cerca de 75 ovos e 24 esqueletos completos.

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Aparência

Um arau-gigante adulto pesava 5 kg e, de pé, atingia 75 a 85 centímetros de altura. Foi o segundo maior membro da família dos alcídeos e também da ordem Charadriiformes, sendo superado apenas pelo Miomancalla howardi. Os araus que viviam mais ao norte tinham, em média, tamanhos maiores que os do sul. Machos e fêmeas possuíam plumagens parecidas, embora haja evidência de diferenças de tamanho, especialmente no comprimento do bico e do fêmur. A traseira era predominantemente preta brilhante, e o estômago branco. O pescoço e pernas eram curtas, e a cabeça e as asas pequenas. O arau parecia rechonchudo devido a uma espessa camada de gordura, necessária para evitar a perda de calor.

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Durante o verão, a ave desenvolvia um amplo tapa-olho branco sobre o olho, o qual tinha uma íris cor de avelã ou acastanhada. Já no inverno, ocorria a muda das penas e ele perdia o tapa-olho, que era substituído por uma grande faixa branca e uma linha de penas cinzas que se estendia dos olhos aos ouvidos. No verão, o queixo e o pescoço do arau eram castanho-escuros, e o interior da boca amarelo. No inverno, a garganta ficava branca. Alguns indivíduos tinham uma plumagem cinza em seus flancos, mas o propósito desta característica ainda é desconhecido. Seu grande bico media 11 centímetros de comprimento e a parte de cima era curvada para baixo; o bico tinha ainda sulcos brancos profundos em ambas as mandíbulas, até sete na mandíbula superior e doze na mandíbula inferior no verão, sendo que havia menos no inverno. As asas tinham apenas 15 cm de comprimento e as maiores penas das asas apenas 10 cm. Seus pés e suas garras curtas eram pretos, enquanto a membrana entre os dedos era preto-acastanhada. As pernas estavam na extremidade traseira do corpo da ave, o que proporcionava um nado poderoso e muita habilidade durante o mergulho.

Filhotes eram cinzas e felpudos, mas sua aparência exata é desconhecida, uma vez que não restou nenhuma pele deles. Aves jovens tinham sulcos menos proeminentes em seus bicos e possuíam pescoços sarapintados de branco e preto, e a mancha do olho encontrada em adultos não estava presente; em vez disso, uma linha cinza corria através dos olhos (que ainda tinha o anel branco do olho) até um pouco abaixo das orelhas.

Os chamamentos do arau-gigante incluíam um coaxar baixo e um grito rouco. Um arau cativo foi observado fazendo um barulho borbulhante quando ansioso. Não se sabe como eram suas outras vocalizações, mas acredita-se que elas eram semelhantes as da torda-mergulheira, porém mais altas e profundas.

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Distribuição

Geografia

O arau-gigante vivia nas frias águas costeiras do Atlântico Norte ao longo dos litorais do Canadá, nordeste dos Estados Unidos, Noruega, Groenlândia, Islândia, Ilhas Faroé, Irlanda, Grã-Bretanha, França e norte da Espanha. A ave saía da água e ia para a terra firme somente para procriar, inclusive repousava no mar quando não estava em época de reprodução. As colônias da espécie se localizavam desde a baía de Baffin e o golfo de São Lourenço no Canadá, atravessando todo o extremo norte do Atlântico, incluindo a Islândia e as ilhas Britânicas, até a Noruega. Para servir como local adequado de nidificação, era preciso que as ilhas rochosas tivessem praias com declive a fim de facilitar o acesso ao mar. Tais exigências eram muito limitantes e acredita-se que a ave nunca teve mais que 20 colônias de reprodução. O lugar para procriar também precisava estar perto de áreas ricas em alimento e ser longe o suficiente do continente para desencorajar a visitação por seres humanos e ursos polares. São conhecidos os locais de apenas seis ex-colônias de reprodução: Papa Westray nas ilhas Órcades, Saint Kilda na costa da Escócia, ilhas Grímsey e Eldey próximas a Islândia, ilha Funk em Terra Nova, e a ilha Madalena no golfo de São Lourenço. Os registros sugerem que esta espécie pode ter se reproduzido também no cabo Cod, em Massachusetts. Do final do século XVIII ao início do século XIX, a área de reprodução do arau-gigante estava restrita às ilhas Funk, Grímsey, Eldey, Saint Kilda, e ao golfo de São Lourenço. A ilha Funk abrigou a maior colônia conhecida.

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Migrava tanto para o norte como para o sul, se distanciando das colônias de reprodução após os filhotes ganharem suas plumagens. Tendiam a se dirigir ao sul durante o final do outono e no inverno. Era comum nos Grandes Bancos da Terra Nova. Seus ossos também foram encontrados bem mais ao sul, na Flórida, onde a espécie pode ter vivido durante quatro períodos: em torno de 1000 a.C., 1000 d.C., no século XV, e no século XVII. Foi sugerido que alguns dos ossos descobertos na Flórida possam ser fruto de comércio entre nativos. O arau-gigante normalmente não se deslocava mais ao sul da baía de Massachusetts no inverno.

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Arau-gigante Mapa do habitat
Arau-gigante Mapa do habitat
Arau-gigante
Public Domain Dedication (CC0)

Hábitos e estilo de vida

O arau-gigante nunca foi observado nem descrito por cientistas modernos durante a sua existência. Praticamente tudo que se sabe hoje sobre seu comportamento é baseado em relatos de pessoas leigas, a exemplo dos marinheiros. Mas muita coisa também pode ser inferida a partir do seu "primo" vivo mais próximo, a torda-mergulheira, bem como do que restou de seus tecidos moles.

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Eles caminhavam lentamente e às vezes usavam as asas para ajudá-los a atravessar terrenos acidentados. Quando corriam, eram desajeitados e com passos curtos em linha reta. Eles tinham poucos predadores naturais: seus maiores inimigos eram grandes mamíferos marinhos, como a orca, e a águia-rabalva. Ursos polares também predavam suas colônias de nidificação. O arau-gigante não tinha medo inato dos seres humanos, e sua incapacidade de voar e dificuldade de se locomover em terra agravavam a sua vulnerabilidade. Eles foram caçados por sua carne, penas, e como espécimes de museus e coleções particulares. Reagiam a ruídos, mas raramente se assustavam com a visão de alguma coisa. Usavam o bico de forma agressiva tanto nos locais de nidificação mais apinhados como quando ameaçados ou capturados por humanos. Acredita-se que viviam cerca de 20 a 25 anos. Durante o inverno, o arau-gigante migrava para o sul, quer em pares ou em pequenos grupos, e nunca com toda a colônia de nidificação.

O arau-gigante era comumente um excelente nadador, usando suas asas para ganhar impulsão debaixo d'água. Enquanto nadava, ficava com a cabeça levantada mas o pescoço torcido. A espécie conseguia planar, desviar-se e girar sob a água. O arau-gigante era conhecido por mergulhar a profundidades de 76 metros e chegou a ser dito que a ave era capaz de mergulhar a 1 km de profundidade. Para economizar energia, a maioria dos mergulhos eram mais rasos. Também era capaz de prender a respiração por 15 minutos, mais do que uma foca. Tal habilidade de mergulho reduziu bastante a competição com outras espécies de alcídeos. O arau conseguia acelerar debaixo d'água e em seguida atirar-se para fora da água para "pousar" sobre rochas acima da superfície do mar.

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Comportamento sazonal

Dieta e nutrição

Normalmente se alimentava em águas pouco profundas, as quais eram mais rasas do que aquelas frequentadas por outros alcídeos, embora após a estação reprodutiva tenham sido avistados a até 500 km do litoral. Acredita-se que se alimentava cooperativamente em bandos. Sua dieta era composta principalmente por peixes, geralmente os que mediam de 12 a 20 cm de comprimento e pesavam 40 a 50 gramas, mas ocasionalmente suas presas tinham até a metade do comprimento da ave. Com base em resquícios relacionados a ossos de araus-gigantes encontrados na ilha Funk, e levando em consideração aspectos ecológicos e morfológicos, aparentemente as espécies de peixes Brevoortia tyrannus e Mallotus villosus eram suas presas favoritas. Outros alimentos apontados como potenciais itens do "cardápio" do arau incluem os ciclopterídeos, Myoxocephalus scorpius, bacalhaus, crustáceos e amoditídeos. Acredita-se que os filhotes comiam plâncton e, possivelmente, peixes e crustáceos regurgitados pelos adultos.

Hábitos de acasalamento

Comportamento de acasalamento

Descrições históricas sobre o comportamento reprodutivo do arau-gigante são pouco fiáveis. A ave começava a formar pares no começo a meados de maio. Acredita-se que era monogâmica, embora alguns teorizam que possam ter se acasalado com outros indivíduos além de seu par, um comportamento visto na torda-mergulheira. Após encontrar seu parceiro, construíam o ninho na base de penhascos nas colônias, onde provavelmente ocorria o acasalamento. Os casais tinham um comportamento de exibição social, no qual eles balançavam as cabeças, mostrando a mancha branca dos olhos, as marcas do bico e a boca amarela. As colônias tinham uma densidade populacional bastante elevada, algumas estimativas chegam a apontar que havia um ninho em cada metro quadrado de terreno. Estas colônias eram muito sociais. Quando existia outras espécies de alcídeos no local, os arau-gigantes dominavam devido ao seu tamanho.

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As fêmeas aparentemente punham apenas um ovo a cada ano, entre o final de maio e início de junho, no entanto, elas eram capazes de por outro ovo caso o primeiro fosse perdido. Nos anos em que havia escassez de alimentos, os araus não procriavam. Um único ovo era posto sobre o solo descoberto a até 100 metros da costa. O ovo tinha formato ovalado e alongado, com uma média de 12,4 centímetros de comprimento e 7,6 centímetros de largura no ponto mais largo. Sua casca era branco-amarelada a ocre-claro com um padrão variável de manchas e linhas pretas, marrons ou acinzentadas que muitas vezes se mesclavam na base. Acredita-se que a variação no padrão de listras permitia que os pais reconhecessem o seu ovo na colônia. A dupla se revezava para choca-lo na posição vertical até 39 a 44 dias antes do ovo eclodir, geralmente em junho, embora ovos poderiam ainda estar presentes nas colônias em agosto.

Os pais também se revezavam para alimentar sua cria. De acordo com um relato, o filhote era coberta por uma penugem cinza. A ave jovem levava apenas duas ou três semanas para amadurecer o suficiente para abandonar o ninho e adentrar a água, normalmente em torno de meados de julho. Os pais cuidavam de seus filhotes mesmo depois de emplumados, e adultos foram vistos nadando com suas crias agarradas nas costas. O arau-gigante amadurecia sexualmente quando tinha entre quatro e sete anos de idade.

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População

Ameaças à população

A Pequena Idade do Gelo pode ter reduzido a população de araus-gigantes, aumentado a exposição de seus locais de reprodução ao ataque de ursos polares, mas a exploração comercial maciça de suas penas diminuiu ainda mais drasticamente sua população. Em meados do século XVI, as colônias de nidificação do lado europeu do Atlântico foram quase todas exterminadas pelos caçadores, que matavam a ave para obter suas plumas, usada na época para fazer travesseiros. Em 1553, o arau recebeu a sua primeira proteção oficial, e em 1794 a Grã-Bretanha proibiu a matança da espécie para extração de penas. Em St. John's, no Canadá, aqueles que violassem a lei de 1775 que proibia a caça do arau-gigante por suas penas ou ovos eram açoitados publicamente, embora a captura para uso como isca de pesca ainda fosse permitida. No lado norte-americano, as penas das aves do gênero Eider eram inicialmente as preferidas, mas após terem sido quase levadas à extinção na década de 1770, coletores de penas direcionaram seu foco para o arau-gigante, ao mesmo tempo que diminuía a caça para alimentação, isca de pesca e óleo.

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Com sua raridade cada vez maior, exemplares de araus-gigantes e seus ovos se tornaram colecionáveis e altamente valorizados pelos europeus ricos. A grande quantidade de ovos que foram parar em coleções contribuiu para o desaparecimento da espécie. Eggers, pessoas que iam até os locais de nidificação da ave para recolher os seus ovos, rapidamente perceberam que todos os animais não colocavam seus ovos no mesmo dia, então eles passaram a voltar várias vezes numa mesma colônia de reprodução. Eles recolhiam apenas os ovos sem embriões se desenvolvendo dentro deles e, normalmente, descartavam os que tinham embriões.

O arau-gigante desapareceu da ilha Funk por volta de 1800, e um relato de 1794, feito por Aaron Thomas do HMS Boston, descreveu como a ave vinha sendo sistematicamente abatida até então:

Na ilhota Stac an Armin, no arquipélago de Saint Kilda, Escócia, em julho de 1844, o último arau-gigante visto nas ilhas britânicas foi capturado e morto. Três homens da região pegaram um único "garefowl" (um dos nomes populares da espécie em língua inglesa), mencionando suas asinhas e a grande mancha branca na cabeça. Eles o amarraram e o mantiveram vivo por três dias, até que veio uma grande tempestade. Acreditando que o arau era uma bruxa e a causa da tempestade, mataram-no batendo com um pedaço de pau.

A última colônia de araus-gigantes viveu em Geirfuglasker (a "Grande Rocha do Arau", em tradução livre) na costa da Islândia. Este ilhéu era uma rochedo vulcânico cercado por falésias, o que o tornava inacessível aos seres humanos, mas em 1830 ele submergiu após uma erupção vulcânica, e as aves se mudaram para a vizinha ilha de Eldey, que era acessível apenas por um dos lados. Quando a colônia foi descoberta em 1835, cerca de cinquenta aves estavam no local. Museus, cobiçando as peles do arau para conservação e exposição, rapidamente começaram a coletar exemplares da ave na colônia. O último casal, encontrado incubando um ovo, foi morto lá em 3 de julho de 1844, a pedido de um comerciante que queria espécimes. Jón Brandsson e Sigurður Ísleifsson estrangularam os adultos e Ketill Ketilsson esmagou o ovo com a bota.

O especialista em araus-gigantes John Wolley entrevistou os dois homens que mataram os últimos exemplares da espécie, e Ísleifsson descreveu o ato como se segue:

Uma reivindicação posterior do avistamento de um indivíduo vivo em 1852 nos Grandes Bancos da Terra Nova foi aceito pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.

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Referências

1. Arau-gigante artigo na Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Arau-gigante
2. Arau-giganteno site da Lista Vermelha da IUCN - http://www.iucnredlist.org/details/22694856/0

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